Modernização da mídia pública para a era do streaming na PBS

Fevereiro de 2025

Com Ira Rubenstein, diretor digital e de marketing da PBS

Nesta conversa sobre insights executivos, Ira Rubenstein, diretor digital e de marketing da PBS, discute a transformação da mídia pública para a era do streaming. Com base em seus mais de 20 anos de experiência defendendo a inovação digital em Hollywood, Rubenstein detalha a evolução da PBS em uma plataforma digital sofisticada que oferece 400 milhões de transmissões mensais. Ele destaca os desafios únicos da PBS como organização associativa de mais de 300 emissoras locais, seu compromisso com a acessibilidade e abordagens inovadoras para arrecadação de fundos digitais. A discussão enfatiza o papel da PBS como um tesouro nacional que se adapta às rápidas mudanças tecnológicas, mantendo sua missão principal de fornecer conteúdo educacional gratuito a todos os americanos.

Transcrição da conversa

Com Miriam McLemore, estrategista empresarial da AWS, e Ira Rubenstein, CDMO da PBS

Miriam McLemore:
Boas-vindas ao podcast Executive Insights, uma iniciativa da AWS. Meu nome é Miriam McLemore, e sou estrategista empresarial na AWS Estou muito feliz por ter a oportunidade de conversar hoje com Ira Rubinstein, que atua como diretor de marketing e diretor digital da PBS. Ira, muito obrigada por aceitar nosso convite.

Ira Rubenstein:
Obrigado por me receber.

Miriam McLemore:
Você poderia nos contar um pouco mais sobre a sua função na PBS e sobre a própria PBS?

Ira Rubenstein:
Claro. Então, minha função na PBS envolve supervisionar as áreas de marketing e de gerenciamento de marca, claro. Além disso, sou responsável por nossas operações de transmissão, nossas operações digitais, todos os nossos aplicativos, e também pela estratégia de distribuição, pelo desenvolvimento de negócios, pela equipe de inteligência de negócios e pelas operações de vídeo.

Miriam McLemore:
Nossa, que função excelente.

Ira Rubenstein:
É uma oportunidade maravilhosa. Depois de tantos anos em Hollywood, sinto que agora estou fazendo parte de algo bom, algo que faz a diferença.

Miriam McLemore:
Então, conte-nos um pouco da sua trajetória. Um breve relato do que aconteceu previamente.

Ira Rubenstein:
Antes da PBS, eu dediquei mais de vinte anos trabalhando em Hollywood. Trabalhei na 20th Century Fox, na Sony Pictures, na Marvel, na Disney.

Miriam McLemore:
Uau, você trabalhou em todas as grandes empresas.

Ira Rubenstein:
Estive na vanguarda do marketing digital. Isso foi uma combinação de estar no lugar certo, no momento adequado, e ser uma pessoa naturalmente curiosa. Quero dizer, em um estúdio, havia muitos recursos disponíveis. E, como sempre fui apaixonado por tecnologia desde pequeno, isso me disponibilizava acesso aos melhores computadores. O estúdio me forneceu um modem, tudo custeado por eles, e eu simplesmente ficava experimentando, como sempre gostei de fazer. Foi assim que iniciei algumas das primeiras iniciativas de marketing em Hollywood, usando plataformas como Prodigy, Delphi e American Online. E então, com a chegada da Internet, eu me vi navegando por páginas que mostravam cafeteiras e aquários. Meu pai, que era professor na Universidade de Minnesota, comentou comigo que em breve todos os estudantes universitários teriam acesso à Internet. Então, procurei meu chefe e disse: “Nossa estratégia de marketing sempre foi voltada para o público universitário. Posso desenvolver um site. Não é complexo. Que tal fazermos um?” E, felizmente, eu estava...

Miriam McLemore:
E com quem você estava trabalhando nesse período?

Ira Rubenstein:
Com a 20th Century Fox.

Miriam McLemore:
Ah, certo.

Ira Rubenstein:
Então, desenvolvemos dois sites: um para Power Rangers: O Filme e outro para Duro de Matar: A Vingança. Foram dois dos primeiros sites da indústria cinematográfica em Hollywood, e, de certa forma, eu dei início a toda essa área de marketing digital em Hollywood. Quando comecei a trabalhar para a Sony Pictures, graças ao meu histórico na área de mídia, tive a oportunidade de começar a testar a compra de anúncios na Internet em seus primeiros dias, como, por exemplo, adquirir o espaço principal da página inicial do Yahoo, que era considerado um grande formato publicitário. Desde então, sempre procurei formas de impulsionar o uso da tecnologia. Além disso, participei das primeiras transmissões de trailers pela Internet, utilizando o RealPlayer, caso você se lembre dessa plataforma.

Miriam McLemore:
Sim, lembro bem.

Ira Rubenstein:
Estávamos criando um dos primórdios da linguagem VRML, quando fui envolvido em um projeto por um colega, Yair Landau, que tinha o interesse de verificar se conseguiríamos montar um serviço de download de filmes, inspirado no que o Napster estava começando a provocar na indústria. Então, respondi: “Não vejo motivo para não tentar”. Essa iniciativa acabou sendo o que deu origem ao Movielink, um precursor do streaming, bem antes da chegada da Netflix ou de qualquer outro serviço semelhante.

Portanto, sempre tive essas incríveis oportunidades para experimentar e desenvolver a tecnologia, e foi após a Marvel e a criação de quadrinhos digitais e projetos similares que surgiu a chance de vir para a PBS. E, como sou um Eagle Scout da BSA, senti que era meu dever começar a retribuir.

Miriam McLemore:
Sim, e com todo esse conjunto de competências...

Ira Rubenstein:
Tive a sensação de estar diante de um verdadeiro patrimônio nacional, e ao acessar o site, percebi claramente os desafios que enfrentavam para oferecer conteúdo com a streaming. Isso foi há mais de dez anos. Senti que deveria contribuir de alguma forma para transformar a PBS, e tenho muito orgulho do que fizemos. Naturalmente, foi um esforço coletivo, mas hoje, como gosto de afirmar, somos o maior segredo digital ainda pouco conhecido. Ultrapassamos 400 milhões de transmissões por mês e todas estão hospedadas na AWS. Realizamos a transmissão linear em tempo real de todas as nossas emissoras usando a AWS. Contamos com aplicativos em todas as plataformas. Além disso, oferecemos um serviço chamado Passport, um benefício para associados que auxiliei no desenvolvimento e no lançamento. Portanto, o apoio às emissoras locais garante acesso a uma ampla biblioteca de conteúdos, incluindo todos os documentários de Ken Burns, por exemplo. Em vez de receber um DVD na sacola promocional, agora você acessa essa biblioteca. Essa estratégia tem se mostrado extremamente bem-sucedida na arrecadação de recursos para as emissoras locais e na condução da transição para a era do streaming digital.

Miriam McLemore:
Como você mesmo afirmou, e com razão, trata-se de um patrimônio nacional, embora permaneça como um dos segredos mais bem guardados do país. Por que você acredita que ainda é um segredo? Quando perguntamos às pessoas, a resposta geralmente é: “A PBS é maravilhosa”, não é mesmo?

Ira Rubenstein:
Acredito que muitas pessoas ainda não reconheceram o nível de sofisticação presente em nossas iniciativas digitais. Seja na escala do que estamos executando em termos de streaming, no uso do AWS Bedrock como mecanismo de recomendação, ou na IA aplicada aos jogos infantis que, na verdade, adapta a experiência de acordo com o progresso da criança até que ela assimile determinada habilidade, estamos diante de ferramentas digitais avançadas. No entanto, quando mencionamos a PBS, a reação ainda costuma ser de surpresa: “Ah, é aquela…?”

Miriam McLemore:
Vocês direcionam essa comunicação para as mães? Quero dizer, porque...

Ira Rubenstein:
Na comunicação direcionada aos pais, essa parte digital é relevante para eles? A única coisa que importa é se funciona, não é?

Miriam McLemore:
Bem, hoje em dia eles se importam por causa dos filhos, pois há tanta orientação para telas.

Ira Rubenstein:
Sim, com certeza. Quero dizer, somos uma marca reconhecida pela sua credibilidade.

Miriam McLemore:
Sim, concordo plenamente.

Ira Rubenstein:
Acredito que as pessoas reconhecem que não realizamos rastreamento de dados, não veiculamos anúncios, por sermos uma organização não comercial, e proporcionamos um espaço altamente seguro para o público infantil. Isto é, temos um aplicativo específico para o público infantil, assegurando a separação completa entre o conteúdo voltado às crianças e aquele destinado à audiência geral. Além disso, disponibilizamos um aplicativo separado dedicado a jogos infantis, considerando que esses recursos são tão relevantes quanto os conteúdos audiovisuais. E estamos promovendo isso? Sem dúvida.

Miriam McLemore:
Claro.

Ira Rubenstein:
Dispomos dos mesmos recursos orçamentários que os demais?

Miriam McLemore:
Não.

Ira Rubenstein:
Obviamente não.

Miriam McLemore:
É compreensível.

Ira Rubenstein:
Por esse motivo participo de oportunidades como esta. Desejo disseminar informações e incentivar seu compartilhamento.

Miriam McLemore:
É justo.

Ira Rubenstein:
Porém, acredito que, dentro da comunidade digital, é importante divulgar nosso trabalho e fazer com que as pessoas reconheçam o que fazemos, porque, ao analisar nossa atuação digital, elas sempre se surpreendem. Nosso aplicativo é provavelmente um dos aplicativos mais avançados em termos de vídeo, pois nós localizamos sua estação local e, dependendo da sua localização nos Estados Unidos, você pode ter uma ou até três estações locais. Também oferecemos a possibilidade de cada estação local disponibilizar seu conteúdo próprio. Assim, o aplicativo mantém uma estrutura única, mas a experiência é alterada conforme a região e a estação do usuário. Além disso, contamos com uma plataforma de backend completa para doações, que garante que os valores arrecadados sejam repassados diretamente às respectivas estações.

Miriam McLemore:
Adoro acompanhar esse processo e visualizar você trazer um conjunto tão robusto de habilidades para a PBS, ajudando a fortalecer esse patrimônio nacional. Existe algo se delineando no horizonte, algo que você almeja realizar em seguida? Parece que há...

Ira Rubenstein:
Oh, meu Deus.

Miriam McLemore:
Ou você tem essa curiosidade interminável... Parece que você é uma pessoa naturalmente curiosa.

Ira Rubenstein:
Minha lista é extensa. Acredito que as doações digitais, ou o que costumo chamar de “doações sem barreiras”, representam o futuro da mídia pública. Historicamente, se pensarmos nos velhos tempos da mídia pública, você deve lembrar das famosas campanhas de arrecadação.

Miriam McLemore:
Nossa, é verdade.

Ira Rubenstein:
Durante os programas, exibem mensagens como “Ligue para este número”. Esse modelo tem se mostrado eficaz. Assim, para uma entidade em que esse formato já funcionou, é razoável supor que um processo de doação mais fluido obtenha resultados ainda melhores. Atualmente, a funcionalidade está implementada em duas plataformas. Uma delas é a plataforma AWS Fire, por meio do aplicativo desenvolvido para esse ambiente. O que fazemos é integrar diretamente à carteira da HAQM. Dessa forma, quando o indivíduo identifica um conteúdo de seu interesse e deseja contribuir, ele apenas clica em “doar” e o processo ocorre de forma imediata. Com um único clique, alcançamos uma taxa de conversão de 12%. Estou convencido de que esse modelo representa o futuro da mídia pública. Caso consigamos avançar com a implementação de doações integradas em todas as plataformas em que estamos presentes, acredito que teremos uma oportunidade concreta, considerando que o cenário atual da mídia apresenta desafios significativos.

Miriam McLemore:
É extremamente desafiador.

Ira Rubenstein:
E ao observarmos algumas das grandes empresas de mídia e constatarmos que, mesmo com sua escala, não conseguem competir plenamente, é fundamental reconhecer que atuamos no mesmo setor, porém que temos um modelo de negócios distinto. E é absolutamente verdadeiro que esse modelo de negócios se sustenta graças ao apoio dos próprios telespectadores. Desde que continuemos fortalecendo essa relação com o público e garantindo que nossas estações locais permaneçam relevantes e significativas para suas comunidades, mantenho uma visão otimista sobre o futuro da mídia pública, especialmente com a introdução de ferramentas digitais que nos ajudam a avançar. Você me perguntou o que vislumbro no horizonte...

Miriam McLemore:
Sim, estamos conseguindo ajudar você?

Ira Rubenstein:
Sem dúvida. Com a IA generativa, aliada ao processo de doações. Ambos têm um enorme potencial. Suponhamos, por exemplo, que saibamos que você é uma grande apreciadora de All Creatures Great and Small...

Miriam McLemore:
Na verdade, eu sou.

Ira Rubenstein:
Um novo episódio será lançado em janeiro, falando agora com meu olhar de marketing.

Miriam McLemore:
Li os livros quando era mais jovem.

Ira Rubenstein:
Não seria ótimo receber uma notificação no aplicativo com a mensagem: “Notamos que você é uma grande fã da série. Deseja assistir à primeira ou à segunda temporada?” Ao identificarmos que o usuário não faz parte do programa Passport, conseguimos adaptar a comunicação de forma personalizada. Ou, se tivéssemos conhecimento de que você tem sido membro durante os últimos cinco anos, poderíamos lhe agradecer por sua fidelidade como membro e, então, pedir um aumento na sua doação de apoio. Tudo isso é possível. No entanto, requer um esforço significativo e envolve custos relevantes. Por essa razão, é necessário captar recursos para viabilizar essa iniciativa, mas mantenho um grande otimismo quanto ao rumo que estamos trilhando. Esse é um dos aspectos.

O outro aspecto central do meu trabalho consiste em garantir a ampla distribuição dos canais locais. Portanto, na era da televisão por transmissão a cabo, vigorava a legislação “must-carry”, que determinava a inclusão obrigatória das emissoras locais nas provedoras de transmissão a cabo. No cenário digital, essa regulamentação deixou de existir. Assim, para preservar a relevância das nossas estações, é fundamental assegurar sua presença das nossas estações locais nas plataformas digitais mais relevantes.

Miriam McLemore:
Então, Ira, pelo que sei, acabamos de firmar um acordo com vocês no Prime. Você pode nos contar mais sobre o que se trata?

Ira Rubenstein:
Certamente. Estou bastante entusiasmado com nosso acordo de distribuição com o HAQM Prime Video. A iniciativa consiste em disponibilizar os sinais lineares ao vivo de todas as nossas emissoras locais na área gratuita da plataforma HAQM Prime Video. Inclusive, o lançamento ocorreu recentemente.

Miriam McLemore:
Que incrível.

Ira Rubenstein:
Estamos no processo de implementação e bastante animados com essa oportunidade. No entanto, ainda existem outras plataformas nas quais busco viabilizar a presença de nossas mais de 300 emissoras, sempre respeitando a necessidade de personalização local.

Miriam McLemore:
Certo. É um desafio significativo. Espero que a AWS tenha atuado como uma parceira estratégica.

Ira Rubenstein:
Sem dúvida. Ela tem sido fundamental, pois nos permite apresentar uma proposta mais coesa aos parceiros de distribuição, visto que podemos afirmar que “toda a rede está na AWS”. Toda a infraestrutura está centralizada e os sinais das estações seguem para um único ponto. Está tudo em um formato padronizado. Tudo funciona por meio dos servidores Elemental. Isso facilita a integração e evita lidar com 300 formatos distintos, o que traz escalabilidade e eficiência.

Miriam McLemore:
Trata-se de remover barreiras.

Ira Rubenstein:
Certo.

Miriam McLemore:
Remover os obstáculos do processo.

Ira Rubenstein:
É exatamente isso.

Miriam McLemore:
É evidente que a PBS carrega um legado significativo que exigiu transformação. Eu trabalhei na Coca-Cola, uma empresa com aproximadamente 135 anos de história, correto? Um legado extenso, então, compreendo esse tipo de desafio. Quais ações você conseguiu implementar para enfrentar esse cenário?

Ira Rubenstein:
Estou na PBS há pouco mais de dez anos, e comecei... Bom, antes de mais nada, deixe-me explicar o que é a PBS. A PBS trata-se de uma organização composta por emissoras locais associadas. Não funciona como uma rede central ou nacional. Portanto, essas emissoras locais, nossas emissoras afiliadas, contribuem financeiramente em troca de acesso a conteúdo e serviços. Assim, a transformação não se restringiu à própria PBS.

Miriam McLemore:
Certo, a rede se espalha por todo o território nacional.

Ira Rubenstein:
A transformação abrangeu mais de 300 emissoras, cada uma com seu próprio legado e estruturas de propriedade variadas.

Miriam McLemore:
E, provavelmente, com modelos de financiamento distintos.

Ira Rubenstein:
O que muitas pessoas desconhecem é a diversidade de origens entre as emissoras da PBS. Portanto, vou fornecer alguns exemplos. A KPBS, em San Diego, pertence à Universidade Estadual de San Diego. Trata-se de uma licença universitária. A PBS em Las Vegas, por sua vez, é de propriedade do Distrito Escolar de Las Vegas. Trata-se de uma licença educacional de nível básico. A Maryland Public Television é de propriedade do estado de Maryland. O mesmo ocorre nos estados de Kentucky, Arkansas e Mississippi. Todas essas emissoras contam com licença estatal. Existem ainda as emissoras que contam com licenças comunitárias, como a KQED, em São Francisco, ou a WGBH, em Boston. Portanto, cada uma dessas emissoras têm estruturas e legados próprios, como se pode imaginar.

Dessa forma, minha abordagem foi incentivar as pessoas a refletir sobre a transformação digital. E uma das primeiras ações que executei foi... bom, acho que vale mencionar o EMARKETER. Estabeleci um acordo que proporcionou acesso gratuito ao EMARKETER a todos os integrantes do sistema. Minha intenção era que todos pudessem acompanhar as tendências e visualizar os dados sobre a transformação que se aproximava. Esse foi o primeiro passo. O segundo passo consistiu em fazer com que as emissoras compreendessem melhor os dados e as decisões orientadas por dados, auxiliando-as a se concentrarem mais no público e no consumidor usando as plataformas digitais. Além disso, adotamos uma abordagem voltada para o desenvolvimento de soluções únicas em grande escala, com possibilidade de personalização, visto que nossas emissoras variam muito em porte e estrutura. Algumas contam com mais recursos que outras, mas trabalhar com o digital é desafiador. É especialmente complexo quando se trata de grande escala.

Miriam McLemore:
Certo. É um grande desafio.

Ira Rubenstein:
Minha percepção era de que, se as emissoras concentrarem seus esforços no que fazem com excelência, que é o conteúdo voltado à comunidade local, a prestação de serviço público e a relevância regional, eu poderia contribuir com a ampliação da distribuição desse conteúdo em grande escala nas plataformas digitais para elas. A verdadeira transformação consistiu em orientar o foco das emissoras para o conteúdo, com ênfase no conteúdo digital, promover a compreensão dos dados e integrar todos esses pilares. Contamos com inúmeros parceiros nesse processo. A Corporation for Public Broadcasting, por exemplo, desempenhou um papel fundamental.

Sou extremamente grato por esse apoio externo, pois nos possibilitou investir na infraestrutura digital necessária para transformar o sistema.

Miriam McLemore:
E em que estágio vocês se encontram agora?

Ira Rubenstein:
Ainda seguimos nesse processo.

Miriam McLemore:
Eu imaginei... considerando que se trata de 300 emissoras.

Ira Rubenstein:
Tenho a sensação de que ainda seguimos nesse processo. Algumas emissoras demonstram maior engajamento do que outras, mas, acredito que haja um consenso de que, no setor de mídia, a audiência se fragmentou significativamente. O público está distribuído por diversos canais, e há segmentos que não consomem mais a televisão tradicional, os chamados “core nevers”. Diante disso, torna-se essencial alcançá-los em plataformas como o YouTube, que não fazem parte do sistema de transmissão, mas que já veiculam um conteúdo de mídia pública. Então, lançamos uma iniciativa chamada PBS Digital Studios com o propósito de avaliar quais tipos de conteúdo teriam bom desempenho no YouTube. No entanto, isso ocorreu há uma década. Avançando para os dias atuais...

Miriam McLemore:
As coisas mudaram um pouco.

Ira Rubenstein:
Sim, mudaram mais uma vez. Quero dizer, os canais Frontline e PBS NewsHour apresentam resultados excepcionais no YouTube. Aproximadamente 70% das visualizações do canal Frontline ocorrem por meio de aplicações do YouTube usadas em televisores conectados. O tempo médio de visualização ultrapassa 40 minutos. Isso evidencia uma mudança significativa em relação ao YouTube de uma década atrás. Portanto, o desafio consiste em distribuir nosso conteúdo nessa plataforma e, ao mesmo tempo, assegurar que as pessoas reconheçam que sua existência só é possível graças ao apoio às emissoras locais. Este é um dos maiores desafios que enfrentamos no momento.

Miriam McLemore:
É necessário dar continuidade a essa evolução, considerando a velocidade com que o cenário está se transformando.

Ira Rubenstein:
Ah, eu já reforcei isso diversas vezes no contexto da mídia pública. Ao longo da minha carreira no setor de mídia, jamais presenciei um ritmo de mudança tão acelerado quanto o atual.

Miriam McLemore:
Sim, é algo fora do comum.

Ira Rubenstein:
Ao trabalhar com parceiros ou organizações externas, é perceptível que os modelos de negócio estão mudando a cada três meses. As pessoas tentam, com urgência, descobrir como se adaptar a esse novo cenário. Sem dúvida, trata-se de um grande desafio, mas é justamente esse dinamismo que me entusiasma.

Miriam McLemore:
Verdade. Isso torna tudo mais interessante, não é?

Ira Rubenstein:
E nesse processo de tentar encontrar soluções, sabemos que o fracasso não é uma opção. É algo muito importante. A relevância da mídia pública para este país é inquestionável. Frequentemente ouvimos relatos de pessoas que se aproximam e compartilham: “Aprendi inglês assistindo à programação da mídia pública”. Tivemos a participação de uma astronauta em um de nossos programas. Elas nos contou sua história. Cresceu, se não me engano, em Nebraska, e afirmou que foi por meio do Nova que teve sua primeira visão do espaço, o que despertou seu interesse. Lin-Manuel também costuma mencionar que o Great Performances lhe proporcionou acesso ao universo da Broadway. E esses relatos se repetem, justamente porque estamos presentes e somos acessíveis de forma gratuita. Ao considerar todas as pessoas neste país que possivelmente não contam com acesso à Internet de alta velocidade, ou que dispõem de oportunidades limitadas, é possível afirmar que a mídia pública tem algo relevante a oferecer, que pode ser capaz de despertar interesse. Isso pode se transformar em algo extraordinário.

Miriam McLemore:
Então, Ira, essa transformação cultural, aliada às diferentes formas de gerenciamento das estações e canais locais, conforme você descreveu, representa um desafio significativo para acompanhar as mudanças do setor, correto? Estamos aqui na AWS, e realmente é um desafio acompanhar o volume de mudanças tecnológicas. E muitas dessas entidades, no entanto, não estão imersas no ecossistema tecnológico. Que ações você tem adotado para promover uma cultura que valorize a necessidade constante...

Ira Rubenstein: 
De inovação e mudança.

Miriam McLemore:
Exatamente, de inovação.

Ira Rubenstein:
Promovemos um evento na PBS com o objetivo de reunir todos os profissionais e áreas ligadas à tecnologia. Gosto especialmente quando as estações compartilham suas experiências, porque, quando as informações partem de mim, pode haver ceticismo. No entanto, ao ouvirem relatos de outras estações sobre projetos implementados, inovações realizadas ou programas digitais testados, a receptividade e a confiança aumentam consideravelmente. Por isso, estimulamos esse tipo de troca tanto em nosso encontro anual quanto por meio de grupos específicos e webinars internos ao sistema. A comunicação direta entre as estações sempre se mostrou a forma mais eficaz de promover mudanças concretas.

Miriam McLemore:
Na AWS, adotamos a premissa de que a troca entre clientes é essencial.

Ira Rubenstein:
Faz sentido. Isso mesmo.

Miriam McLemore:
É a melhor maneira de impulsionar mudanças, pois as pessoas tendem a confiar mais nas experiências de outras pessoas. É valioso conhecer tanto os acertos quanto os desafios enfrentados, os resultados alcançados e os aspectos que exigiram maior esforço, não é?

Ira Rubenstein:
Com certeza. Além de entender o que fariam de forma diferente.

Miriam McLemore:
Pois é. Tudo isso, na minha opinião, contribui para a adição de valor. Eu sei que a acessibilidade é fundamental para a PBS e para garantir que o conteúdo seja acessível. Você mencionou diferentes tipos de pessoas que obtiveram acesso ao conteúdo, e que isso representou para elas a porta de entrada para um outro mundo e uma dimensão da qual não tinham conhecimento. No entanto, existem outros aspectos da acessibilidade.

Ira Rubenstein:
Com certeza. A acessibilidade é algo que a PBS trata com muita seriedade. É algo pelo qual eu tenho um carinho e um compromisso muito grandes. Em nosso site, contamos com recursos de acessibilidade para pessoas com deficiência visual. Se a pessoa não consegue enxergar, disponibilizamos a opção de audiodescrição. Além disso, neste ano, lançamos nosso conteúdo infantil. Nossos programas contam com a Língua de Sinais Americana (ASL, na sigla em inglês), que é algo distinto da legenda. Naturalmente, não sei se você sabe, mas a PBS foi a primeira a usar legenda oculta na televisão. Portanto, como esperado, todos os nossos programas contam com legenda oculta, mas a inclusão de ASL foi uma iniciativa recente, e nosso objetivo é oferecê-la em um número maior de programas. Sendo uma pessoa com surdez, usuária de implantes cocleares, a perda auditiva e a acessibilidade para pessoas com deficiência auditiva são questões muito importantes para mim. Perdi minha audição recentemente. Até o momento, ninguém sabe a causa. Entretanto, é uma temática que eu abraço com muita convicção. É muito importante que, em conferências ou em qualquer outro ambiente, existam tecnologias e ferramentas que auxiliem na acessibilidade auditiva.

Uma coisa curiosa sobre as legendas é que surgiram diversos dados recentes indicando que o público está consumindo seus programas com as legendas ativadas. A razão disso é que, seja no TikTok ou nos Reels do Instagram, o consumo com legenda é constante, e essa se tornou a preferência geral. Além disso, as televisões modernas não oferecem a melhor qualidade sonora, e existem diversos motivos para isso. No entanto, o uso de legendas cresceu muito, sendo algo que eu aprecio bastante. E no que se refere à perda auditiva, um grande número de pessoas nega sua condição. Muitos indivíduos se sentem constrangidos com isso, não desejam buscar auxílio. Mas o que posso dizer é que, no fim das contas, é o melhor que você pode fazer por si mesmo. Existem diversos estudos que demonstram os benefícios que isso pode fornecer, e que o estigma não é tão forte quanto muitos acreditam. Eu tenho a sensação de estar com implantes enormes, mas, na maioria das vezes, as pessoas sequer os percebem.

Miriam McLemore:
Eu mesma nem percebo.

Ira Rubenstein:
Porque, no final das contas, ninguém presta atenção nas suas orelhas, e hoje em dia todo mundo usa AirPods ou aparelhos semelhantes, então, isso acaba não tendo importância. Entretanto, se isso melhora a audição, beneficia a família e ajuda a pessoa a se manter conectada, eu apenas incentivo que procurem um profissional e realizam um exame de audição. E existem recursos disponíveis para quem precisa. Eu também faço parte do conselho de administração da Hearing Loss Association of America, e nós atuamos em defesa dos consumidores. Além disso, fui responsável por levar a temática da saúde auditiva à PBS. Sinto muito orgulho disso. Tenho o privilégio de contar com uma excelente diretora executiva, a Paula Kerger, que me escuta e reconheceu que isso é tão essencial quanto o uso de óculos. E, infelizmente, poucos cidadãos americanos têm acesso a cobertura de serviços de saúde auditiva no ambiente de trabalho.

Trata-se de algo muito importante, e por isso é uma das causas que pessoalmente defendo.

É possível transmitir o áudio diretamente da televisão. As chamadas telefônicas também podem ser enviadas diretamente aos aparelhos auditivos. Todos esses diferentes tipos de ferramentas tecnológicas facilitam enormemente a participação no dia a dia.

Miriam McLemore:
Acho isso admirável, especialmente o aspecto da acessibilidade. Certamente, como um país, progredimos muito, mas ainda há um longo caminho a percorrer.

Ira Rubenstein:
E, mais uma vez, trata-se de uma prioridade para a HAQM.

Miriam McLemore:
De fato.

Ira Rubenstein:
Na verdade, tenho, no meu computador, um adesivo de acessibilidade da iniciativa HAQM Smile, que recebi da equipe que estava trabalhando no HAQM Fire. Eles desenvolveram recursos para amplificação sonora de diálogos, bem como para a integração direta com aparelhos auditivos por meio da tecnologia do Fire. É realmente admirável.

Miriam McLemore:
Apresente-nos um problema. Gostamos de refletir e encontrar soluções, por isso gostei tanto disso. Bem, Ira, agradecemos pela sua disponibilidade hoje.

Ira Rubenstein:
Obrigado por me receber.

Ira Rubenstein, diretor digital e de marketing da PBS:

“Acho que as pessoas reconhecem que sabem que não estamos rastreando dados, não estamos veiculando anúncios, é claro que não somos comerciais e somos um lugar muito seguro para crianças. Quando elas analisam os bastidores do que estamos fazendo digitalmente, sempre as surpreendemos.”

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