Miriam McLemore:
É evidente que a PBS carrega um legado significativo que exigiu transformação. Eu trabalhei na Coca-Cola, uma empresa com aproximadamente 135 anos de história, correto? Um legado extenso, então, compreendo esse tipo de desafio. Quais ações você conseguiu implementar para enfrentar esse cenário?
Ira Rubenstein:
Estou na PBS há pouco mais de dez anos, e comecei... Bom, antes de mais nada, deixe-me explicar o que é a PBS. A PBS trata-se de uma organização composta por emissoras locais associadas. Não funciona como uma rede central ou nacional. Portanto, essas emissoras locais, nossas emissoras afiliadas, contribuem financeiramente em troca de acesso a conteúdo e serviços. Assim, a transformação não se restringiu à própria PBS.
Miriam McLemore:
Certo, a rede se espalha por todo o território nacional.
Ira Rubenstein:
A transformação abrangeu mais de 300 emissoras, cada uma com seu próprio legado e estruturas de propriedade variadas.
Miriam McLemore:
E, provavelmente, com modelos de financiamento distintos.
Ira Rubenstein:
O que muitas pessoas desconhecem é a diversidade de origens entre as emissoras da PBS. Portanto, vou fornecer alguns exemplos. A KPBS, em San Diego, pertence à Universidade Estadual de San Diego. Trata-se de uma licença universitária. A PBS em Las Vegas, por sua vez, é de propriedade do Distrito Escolar de Las Vegas. Trata-se de uma licença educacional de nível básico. A Maryland Public Television é de propriedade do estado de Maryland. O mesmo ocorre nos estados de Kentucky, Arkansas e Mississippi. Todas essas emissoras contam com licença estatal. Existem ainda as emissoras que contam com licenças comunitárias, como a KQED, em São Francisco, ou a WGBH, em Boston. Portanto, cada uma dessas emissoras têm estruturas e legados próprios, como se pode imaginar.
Dessa forma, minha abordagem foi incentivar as pessoas a refletir sobre a transformação digital. E uma das primeiras ações que executei foi... bom, acho que vale mencionar o EMARKETER. Estabeleci um acordo que proporcionou acesso gratuito ao EMARKETER a todos os integrantes do sistema. Minha intenção era que todos pudessem acompanhar as tendências e visualizar os dados sobre a transformação que se aproximava. Esse foi o primeiro passo. O segundo passo consistiu em fazer com que as emissoras compreendessem melhor os dados e as decisões orientadas por dados, auxiliando-as a se concentrarem mais no público e no consumidor usando as plataformas digitais. Além disso, adotamos uma abordagem voltada para o desenvolvimento de soluções únicas em grande escala, com possibilidade de personalização, visto que nossas emissoras variam muito em porte e estrutura. Algumas contam com mais recursos que outras, mas trabalhar com o digital é desafiador. É especialmente complexo quando se trata de grande escala.
Miriam McLemore:
Certo. É um grande desafio.
Ira Rubenstein:
Minha percepção era de que, se as emissoras concentrarem seus esforços no que fazem com excelência, que é o conteúdo voltado à comunidade local, a prestação de serviço público e a relevância regional, eu poderia contribuir com a ampliação da distribuição desse conteúdo em grande escala nas plataformas digitais para elas. A verdadeira transformação consistiu em orientar o foco das emissoras para o conteúdo, com ênfase no conteúdo digital, promover a compreensão dos dados e integrar todos esses pilares. Contamos com inúmeros parceiros nesse processo. A Corporation for Public Broadcasting, por exemplo, desempenhou um papel fundamental.
Sou extremamente grato por esse apoio externo, pois nos possibilitou investir na infraestrutura digital necessária para transformar o sistema.
Miriam McLemore:
E em que estágio vocês se encontram agora?
Ira Rubenstein:
Ainda seguimos nesse processo.
Miriam McLemore:
Eu imaginei... considerando que se trata de 300 emissoras.
Ira Rubenstein:
Tenho a sensação de que ainda seguimos nesse processo. Algumas emissoras demonstram maior engajamento do que outras, mas, acredito que haja um consenso de que, no setor de mídia, a audiência se fragmentou significativamente. O público está distribuído por diversos canais, e há segmentos que não consomem mais a televisão tradicional, os chamados “core nevers”. Diante disso, torna-se essencial alcançá-los em plataformas como o YouTube, que não fazem parte do sistema de transmissão, mas que já veiculam um conteúdo de mídia pública. Então, lançamos uma iniciativa chamada PBS Digital Studios com o propósito de avaliar quais tipos de conteúdo teriam bom desempenho no YouTube. No entanto, isso ocorreu há uma década. Avançando para os dias atuais...
Miriam McLemore:
As coisas mudaram um pouco.
Ira Rubenstein:
Sim, mudaram mais uma vez. Quero dizer, os canais Frontline e PBS NewsHour apresentam resultados excepcionais no YouTube. Aproximadamente 70% das visualizações do canal Frontline ocorrem por meio de aplicações do YouTube usadas em televisores conectados. O tempo médio de visualização ultrapassa 40 minutos. Isso evidencia uma mudança significativa em relação ao YouTube de uma década atrás. Portanto, o desafio consiste em distribuir nosso conteúdo nessa plataforma e, ao mesmo tempo, assegurar que as pessoas reconheçam que sua existência só é possível graças ao apoio às emissoras locais. Este é um dos maiores desafios que enfrentamos no momento.
Miriam McLemore:
É necessário dar continuidade a essa evolução, considerando a velocidade com que o cenário está se transformando.
Ira Rubenstein:
Ah, eu já reforcei isso diversas vezes no contexto da mídia pública. Ao longo da minha carreira no setor de mídia, jamais presenciei um ritmo de mudança tão acelerado quanto o atual.
Miriam McLemore:
Sim, é algo fora do comum.
Ira Rubenstein:
Ao trabalhar com parceiros ou organizações externas, é perceptível que os modelos de negócio estão mudando a cada três meses. As pessoas tentam, com urgência, descobrir como se adaptar a esse novo cenário. Sem dúvida, trata-se de um grande desafio, mas é justamente esse dinamismo que me entusiasma.
Miriam McLemore:
Verdade. Isso torna tudo mais interessante, não é?
Ira Rubenstein:
E nesse processo de tentar encontrar soluções, sabemos que o fracasso não é uma opção. É algo muito importante. A relevância da mídia pública para este país é inquestionável. Frequentemente ouvimos relatos de pessoas que se aproximam e compartilham: “Aprendi inglês assistindo à programação da mídia pública”. Tivemos a participação de uma astronauta em um de nossos programas. Elas nos contou sua história. Cresceu, se não me engano, em Nebraska, e afirmou que foi por meio do Nova que teve sua primeira visão do espaço, o que despertou seu interesse. Lin-Manuel também costuma mencionar que o Great Performances lhe proporcionou acesso ao universo da Broadway. E esses relatos se repetem, justamente porque estamos presentes e somos acessíveis de forma gratuita. Ao considerar todas as pessoas neste país que possivelmente não contam com acesso à Internet de alta velocidade, ou que dispõem de oportunidades limitadas, é possível afirmar que a mídia pública tem algo relevante a oferecer, que pode ser capaz de despertar interesse. Isso pode se transformar em algo extraordinário.
Miriam McLemore:
Então, Ira, essa transformação cultural, aliada às diferentes formas de gerenciamento das estações e canais locais, conforme você descreveu, representa um desafio significativo para acompanhar as mudanças do setor, correto? Estamos aqui na AWS, e realmente é um desafio acompanhar o volume de mudanças tecnológicas. E muitas dessas entidades, no entanto, não estão imersas no ecossistema tecnológico. Que ações você tem adotado para promover uma cultura que valorize a necessidade constante...
Ira Rubenstein:
De inovação e mudança.
Miriam McLemore:
Exatamente, de inovação.
Ira Rubenstein:
Promovemos um evento na PBS com o objetivo de reunir todos os profissionais e áreas ligadas à tecnologia. Gosto especialmente quando as estações compartilham suas experiências, porque, quando as informações partem de mim, pode haver ceticismo. No entanto, ao ouvirem relatos de outras estações sobre projetos implementados, inovações realizadas ou programas digitais testados, a receptividade e a confiança aumentam consideravelmente. Por isso, estimulamos esse tipo de troca tanto em nosso encontro anual quanto por meio de grupos específicos e webinars internos ao sistema. A comunicação direta entre as estações sempre se mostrou a forma mais eficaz de promover mudanças concretas.
Miriam McLemore:
Na AWS, adotamos a premissa de que a troca entre clientes é essencial.
Ira Rubenstein:
Faz sentido. Isso mesmo.
Miriam McLemore:
É a melhor maneira de impulsionar mudanças, pois as pessoas tendem a confiar mais nas experiências de outras pessoas. É valioso conhecer tanto os acertos quanto os desafios enfrentados, os resultados alcançados e os aspectos que exigiram maior esforço, não é?
Ira Rubenstein:
Com certeza. Além de entender o que fariam de forma diferente.